O QUE É?

Nome de origem grega que significa “cabeça oblíqua” ou “achatada.”

 

ESCLARECIMENTO PRÉVIO

Quando pesquisamos “plagiocefalia”, especialmente quando o fazemos na net, aparecem por vezes resultados indistintos referentes a plagiocefalia e craniosynostose.

 

É importante distinguir que a plagiocefalia (geralmente designada de plagiocefalia benigna) significa uma alteração da forma e da simetria do crânio, enquanto que a Craniosynostose consiste na fusão precoce dos ossos do crânio, do qual pode resultar alterações neurológicas e distorções crânio- faciais progressivas.

DISTINÇÃO IMPORTANTE

É importante sublinhar que a plagiocefalia não tem implicação ao nível neurológico ou do desenvolvimento do bebé, enquanto que a craniosynostose tem uma abordagem cirúrgica e deve ser acompanhada pelo neurocirurgião pediátrico.

Nesta informação vamo-nos ocupar da plagiocefalia, uma vez que é nesta que a Osteopatia pode actuar com sucesso.

CURIOSIDADE

O crânio do bebé é facilmente moldável devido à sua estrutura cartilagínea necessária para acompanhar e acomodar o crescimento da cabeça.

As civilizações antigas já reconheciam esta propriedade de maleabilidade do crânio e deformavam-no intencionalmente, usando amarras e aplicação de forças externas, para conseguirem uma distinção ou marca cultural.

A PLAGIOCEFALIA

A plagiocefalia pode surgir na fase intra-uterina (pré-parto) ou pós-parto (adquirida).

A plagiocefalia pré-parto ocorre quando a cabeça do bebé fica numa posição que com o normal crescimento é sujeita a forças estruturais maiores do que seria normal. Estas forças estruturais resultam numa moldagem do crânio conferindo-lhe uma forma assimétrica.

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A plagiocefalia ocorre com maior frequência no sexo masculino, bebés grandes, gravidezes gemelares e nos bebés prematuros.

Os partos difíceis e complicados, com recurso a fórceps ou ventosa, podem também alterar a forma do crânio.

A Plagiocefalia adquirida, quando ocorre nas semanas seguintes ao parto, acontece normalmente por dois factores:

1) Posição de dormir (de barriga para cima) – Na década de 90 (1992), os Norte Americanos lançaram uma campanha designada como “BACK TO SLEEP”, ou seja, dormir de barriga para cima. Esta campanha correu o mundo e conseguiu reduzir a incidência do Síndrome de Morte Súbita, numa estatística de 1.2/1000 para 0.56/1000 bebés.

 

Este resultado significativo e muito positivo implicou no entanto um aumento drástico da incidência de plagiocefalia (cerca de 40%), o que faz com que seja um tema recorrente nas consultas de pediatria.

 

2) Na sequência de um torcicolo – Quando o bebé tem uma restrição da mobilidade do pescoço tende, quando deitado, a estar com a cara sempre virada para o mesmo lado. Esta situação pode levar à plagiocefalia, que incidirá na zona posterior-lateral do lado que o bebé tem a cabeça apoiada.

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A incidência de torcicolos posturais tem vindo a aumentar consideravelmente, contudo, ainda são poucos os país que estão alertados para esta questão.

Nos primeiros meses de vida o bebé passa muito tempo de “barriga para cima” (a dormir no berço, no “ovinho” de transporte, na espreguiçadeira, no tapete de atividades, etc) onde a parte posterior da cabeça está em constante contacto com uma superfície.

 

O contacto muito frequente da face posterior do crânio conjugado com o peso da cabeça do bebé pode resultar numa plagiocefalia ou no achatamento central da face posterior da cabeça, podendo a plagiocefalia adoptar diferentes formas de assimetria.

POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS

A campanha do Síndrome de Morte Súbita condicionou a posição em que o bebé é posto para dormir ou quando está simplesmente deitado. Devido a esta campanha, mas também ao receio dos pais em explorarem outras posições, o resultado tem sido manter o bebé de barriga para cima.

É no entanto importante ter presente que a partir do terceiro mês de vida é essencial que o bebé seja colocado de barriga para baixo para fortalecer os músculos do pescoço, tronco e pernas, mas também para promover a mobilidade e a descoberta de novas forças que lhe permitirão despertar a curiosidade para explorar novas capacidades e etapas de crescimento.

 

Naturalmente que estes tempos de “tummy time”, ou seja de barriga para baixo, devem ser feitos sob a vigilância dos pais e durante curtos períodos de tempo.

 

A plagiocefalia pode desenvolver as seguintes alterações no bebé:tummy-time

  • alterações do desenvolvimento da visão (estrabismo);
  • assimetrias da cara do bebé;
  • dificuldades e alterações da implantação dentária;
  • assimetria da mandíbula e da articulação tempero-mandibular;
  • otites recorrentes;
  • torcicolo;
  • escoliose ou assimetria postural; e
  • alterações da articulação da anca.

NOTA

Plagiocefalia ligeira (não corrigida) pode persistir até a idade adulta, muitas vezes ocultada pelo cabelo, mas possivelmente com alterações da simetria da face. Normalmente são adultos que sofrem de sinusite ou rhinopatias crónicas e enxaquecas frequentes.

FORMAS DE PREVENÇÃO

  • A partir do 3º mês de vida deverá colocar o bebé (quando acordado) de barriga para baixo durante curtos períodos de tempo (10 a 20 segundos), com várias repetições ao longo do dia. Com o decorrer do tempo a capacidade do bebé em se manter confortavelmente nesta posição aumentará significativamente, com inerente benefícios ao nível do desenvolvimento motor e da aprendizagem.

 

  • A mudança regular da posição do bebé no berço (ou mesmo da localização do próprio berço) é importante para evitar que o bebé esteja constantemente virado para o mesmo lado, que normalmente é o lado em que a mãe se encontra em relação ao berço.

 

  • Limitar o tempo de permanência no “ovo” de transporte.

 

  • Durante o sono diurnos (vigiado) pode posicionar o bebé na posição lateral (alternando os lados), com encosto à frente e atrás de modo a garantir que o bebé não rebole.

 

  • Estar atento às possíveis alterações do crânio do bebé nos primeiros meses de vida. O uso das fotografias são uma boa fonte de comparação para poder observar alterações da forma.

 

  • Na consulta com o pediatra ou médico de família deve abordar o tema e esclarecer eventuais duvidas.

 

FORMAS DE CORREÇÃO

 

Almofada Mimos

Consiste numa almofada na forma de um “donut” que ajuda a distribuir as forças compressivas do apoio posterior do crânio na posição de barriga para cima.

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É importante sublinhar que esta almofada tem o inconveniente de se deslocar facilmente com os movimentos do bebé, podendo, por isso, não produzir o efeito desejado ou transformar-se num objecto susceptível de obstruir as vias respiratórias.

 

Cadeira Bumbo

A Cadeira Bumbo é uma cadeira que não possui a zona de apoio para a cabeça.

Esta cadeira para além de ser uma opção para reduzir a pressão sobre a face posterior do crânio, uma vez que não tem um ponto de contacto com a cabeça, ajudará a desenvolver os músculos das costas e pescoço do bebé, pois para que este mantenha sentado/direito terá de se equilibrar recorrendo àqueles músculos.

 

A Osteopatia Pediátrica

A Osteopatia consegue através de técnicas suaves diminuir as alterações da forma da cabeça do bebé, equilibrando as estruturas do corpo de forma a assegurar que o bebé se desenvolva sem compensações e ou assimetrias.

 

Uso ou Recurso à Terapia do Capacete

O uso do capacete de moldagem craniana é uma opção para casos de plagiocefalia (benigna) severa, ou para os casos em que o reposicionamento de postura e ou as técnicas osteopáticas não alcançaram os resultados desejados .

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Esta terapia tem resultados estéticos muito rápidos, todavia a comunidade osteopática tem sentimentos mistos em relação ao efeito que o uso do capacete pode provocar no crânio, uma vez que este actua essencialmente de forma restritiva e não mecânica; ou seja, o capacete limita/corrige o crescimento do crânio de acordo com a forma do próprio capacete. Assim existe o receio que após a retirada do capacete, e devido ao progressivo crescimento do crânio, este possa vir a readquirir a sua forma achatada.

 

A minha experiência profissional leva-me a aconselhar que mesmo nos casos em que o bebé tenha de usar capacete (que são apenas os casos mais severos) o bebé deverá continuar a manter o acompanhamento osteopático, na medida em que a conjugação destas duas terapias permite, simultaneamente, actuar ao nível restritivo e mecânico potenciando as hipóteses de sucesso na correcção do desenvolvimento do crânio.