É caracterizada por uma híper mobilidade das articulações (capacidade de realizar movimentos não habituais como por as palmas das mãos no chão sem dobrar os joelhos ou tocar no antebraço com o polegar do mesmo lado) e laxidão articular, com apresentação de fraqueza muscular e com uma pele que facilmente faz um edema (nódoa negra).
Esta síndrome geralmente afecta mais o sexo feminino e surge na sequência de uma mutação genética ainda desconhecida (é frequente um dos progenitores ter) e é relativamente comum (acontece em 10 a 30% das pessoas).
Uma criança com híper mobilidade benigna apresenta um suporte muscular insuficiente, uma maior instabilidade articular e, consequentemente, ocorrência de lesões de forma fácil e recorrente.
O diagnóstico surge devido a queixas frequentes de dores musculares e articulares crónicas, entorses muito frequentes (especialmente dos pés), luxações e distensões repetidas sem causa aparente de grande esforço ou trauma.
Podem também estar presentes/associados alguns dos seguintes sintomas:
- Queixas frequentes de dores do corpo (músculo-esquelética) especialmente ao fim do dia, noite (dores de crescimento) e após o exercício físico;
- Fadiga frequente;
- Diminuição da coordenação e equilíbrio;
- Alteração da marcha (pés para fora/dentro ou em bicos de pés) ou mesmo aquisição tardia desta (após os 18 meses);
- Dores na mão e dedos ao escrever, o que pode originar dificuldades na caligrafia;
- Pode ainda estar presente a Dispraxia (dificuldade na aprendizagem da fala no tempo da descoberta da linguagem e no ato de engolir); e
- Distúrbios gástricos, refluxo esofágico e alterações do controlo da bexiga.
Porque estão a surgir cada vez mais casos de Hiper Mobilidade Benigna?
O número de casos diagnosticados em crianças aumentou exponencialmente nos últimos 30 anos.
A principal razão deste exponencial aumento de casos é muito simples e a causa recai num principal factor – a diminuição drástica de actividade física das crianças nas suas rotinas diárias.
As rotinas diárias das crianças de há uns anos atrás envolvia ir a pé ou de bicicleta para escola, brincar no parque ou na rua e só voltar para casa quando começasse a escurecer. As brincadeiras envolviam correr, trepar arvores, saltar, jogos etc..
As rotinas das crianças de hoje são (infelizmente) algo diferentes.
As crianças passam uma parte significativa do seu dia sentadas na escola, quando chegam a casa dedicam o seu tempo aos trabalhos de casa, vídeo jogos e televisão, ficando muito pouco tempo, ou mesmo nenhum, para qualquer actividade física.
É inquestionável que as tecnologias de comunicação são muito úteis, pois chegamos ao ponto de não ter de nos mexer para estar em contacto com o mundo, o que se por um lado é realmente fascinante e prático, por outro não nos podemos esquecer que o nosso esqueleto está concebido para se mexer…
Se cada vez passamos mais tempo a falar com amigos e a brincar sem sair do sofá, o nosso corpo começará a enfraquecer, e numa altura em que o crescimento do corpo é muito rápido pode resultar em:
- Dores e incapacidade física;
- Diminuição ou total ausência de prática desportiva (devido às dores);
- Desmotivação;
- Aumento de peso e obesidade;
- Bullying; e
- Insegurança e baixa auto estima
Importa sublinhar que as organizações de saúde recomendam 3 horas diárias de actividade física nas idades dos 2-18 anos.
Como melhorar?
- Solicitar um diagnóstico;
- Fazer exercício físico, de forma a aumentar a massa muscular. O exercício físico deverá seguir um plano de acompanhamento;
- Uso de sapatos adequados, com suporte e correcção da marcha;
- Fisioterapia;
- Osteopatia; e
- Informação e prevenção nas escolas (manter os professores e docentes devidamente informados e alertas pode contribuir de forma muito significativa para detectar/despistar potenciais casos)
Seguindo estes conselhos será possível melhorar a mecânica e a condição física, e ao mesmo tempo prevenir lesões repetidas de maior gravidade, diminuindo assim a possibilidade de surgir o Síndrome de Dor Crónica.
Vanessa Faria Lopes